Apesar de os últimos dois papas terem um perfil mais conservador do que seus antecessores, isto não quer dizer que os cardeais tendem a seguir a linha de João Paulo 2 e Bento 16 na escolha do próximo papa. Os eleitores são mais conservadores, contudo há uma série de problemas que exigem uma abordagem diferenciada: os escândalos na igreja, os problemas com a pedofilia, as conversas com grupos tradicionalistas, o problema da fuga dos fieis.
Estas questões vão exigir uma marcha mais acelerada do Vaticano. Mas não se espere que questões como o sacerdócio feminino ou o fim do celibato dos padres entrem na agenda do próximo papa. Além dos problemas que citei no parágrafo anterior, é bem provável que haja uma aproximação maior com a sociedade, com a modernidade. A Igreja, enquanto instituição, está engatinhando neste sentido.
É um alerta que vem sendo dado há mais de 30 anos. Uma das primeiras vozes neste sentido foi a do ex-superior geral dos jesuítas Pedro Arrupe, que dizia que “receio que estejamos a ponto de oferecer as respostas de ontem para lidar com os problemas de amanhã.”
O atual arcebispo emérito de Bruxelas (Bélgica), Godfried Daneels disse, durante o Sínodo Europeu de 1999, que há muita coisa de valor na cultura contemporânea.
Voltando ao tema, o processo de escolha dos papas segue um movimento pendular. Depois de um Leão 13 (1878-1903) mais inovador, que criou doutrina social da Igreja, seguiu-se Pio 10 (1903-1914), mais tradicionalista e anti-modernista. Este foi substituído por Bento 15 (1914-1922), mais aberto e que procurou-se envolver em uma solução para a Primeira Guerra Mundial. Depois de um autocrático Pio 12 (1939-1958), as portas e janelas do Vaticano se abriram para o mundo com João 23 (1958-63). Esta tendência se seguiu, embora em menor grau, com Paulo 6 (1963-1978).
O cerebral Paulo 6 foi substituído, em um primeiro momento, pelo sorridente João Paulo 1 (1978) e depois, pelo carismático João Paulo 2 (1978-2005), o papa peregrino. Depois veio Bento 16. As viagens diminuíram, mas a preocupação com os fieis aumentou. Há uma frase que circula em Roma que diz: “os fiéis vinham para ver João Paulo 2. Com Bento 16, eles vêm ouvir.”