A renúncia de Bento 16 ao papado surpreendeu a todos. Os mais de 1,2 bilhão de fieis, espalhados pelo mundo afora, ficaram tão estarrecidos quanto os cardeais que participavam do consistório da segunda-feira. E o fato em si traz profundas implicações tanto para o próximo conclave.
O ato de Bento 16 vai definir algumas premissas que definirão o nome de seu sucessor. O primeiro deles é o da idade. Não deve ser escolhido um papa muito novo – como foi o caso de João Paulo 2, que tinha 58 anos ao ser escolhido – nem um papa mais velho – Joao 23 tinha quase 77 anos quando foi eleito e Bento 16, 78.
A ideia que deve dominar o colégio de cardeais, responsáveis pela escolha, é de alguém que tenha um forte vigor físico, político, espiritual e intelectual para a tarefa. Por isso, alguém que tenha mais de 75 anos deve perder pontos na corrida para o trono de São Pedro. Esta é a idade em que os bispos são obrigados a apresentar a sua carta de renúncia ao papa. (Só para lembrar, o papa é o bispo de Roma).
Apesar de terem mais vigor, candidatos “mais jovens” podem ficar fora do páreo. O que se quer evitar com isto são os pontificados extremamente longos, como o de João Paulo 2º, que durou mais de 26 anos (1978-2005); o de Pio 9, com quase 32 anos (1846-1878), e Leão 13, com 25 anos (1878-1903). Em média, os últimos dez papas ficaram 13,5 anos ocupando o cargo.
O arcebispo de Genova (Itália) Giuseppe Siri era um dos nomes que Pio 12 (1939-58) considerava como sendo um dos mais adequados para ser seu sucessor. Mas, contra ele, pesava a idade. No conclave de 1958, que escolheu João 23, o cardeal Siri tinha 52 anos. Se tivesse sido escolhido, seu pontificado teria durado mais de 30 anos. Ele veio a falecer em 1989.
Por isso, a faixa considerada como ideal está entre os 65 e 70 anos, podendo variar um pouco para mais, mas não para menos.
A questão da saúde também vai ser preponderante. Ninguém quer ver se repetir a situação de João Paulo 1º, que morreu após 33 dias de pontificado. Ou ser surpreendido com a informação de que Bento 16 tinha um marcapasso.
O que se vai exigir do novo pontífice é que tenha uma saúde de ferro, condizente com as exigências do cargo.
Foi justamente a saúde que tirou o cardeal Aloisio Lorscheider, então arcebispo de Fortaleza e presidente da poderosa Conferência Episcopal Latino-americana (Celam), dos nomes fortes do segundo conclave de 1978. Reza a lenda que o cardeal Albino Luciani, o futuro papa João Paulo 1º, teria votado em Lorscheider no primeiro conclave de 1978. Entre um e outro processo de escolha do papa, o arcebispo de Fortaleza teve um infarto.
E foi a saúde que assegurou a eleição de João Paulo 2. O fato de nadar e escalar contou muitos pontos depois da morte de seu antecessor por causa de problemas de saúde que a maioria de seus eleitores desconhecia.