No processo de escolha do papa, uma figura que acaba sendo fundamental para construir um consenso é a do grande eleitor. Funciona como um “padrinho” de uma candidatura. É um cardeal que, geralmente, não está na lista dos papabili. Sua influência e indicações ajudam a determinar a votação dos demais cardeais.
Esta figura é mais presente em conclaves mais longos. Contudo, se estes se prolongarem, pode haver a sinalização de que não há um grande eleitor com a capacidade de influenciar tantos cardeais.
No conclave de 2005, o grande eleitor de Joseph Ratzinger foi ele mesmo. Seu sermão na missa Pro Eligendo Pontifice, que antecede o conclave, se referindo a sérios problemas na Igreja Católica, inspirou muitos cardeais a votarem nele.
Os conclaves de 1978 ressaltam a importância do grande eleitor. No primeiro, esse papel coube ao arcebispo de Florença (Itália), Giovani Benelli. Ele foi o principal promotor da candidatura de Albino Luciani, o patriarca de Veneza, que se tornaria João Paulo 1º, mostrando que este, ao mesmo tempo, poderia manter os rumos da modernização da Igreja, sem desagradar a grupos mais conservadores na Cúria Romana.
No segundo conclave de 1978, esse papel coube ao arcebispo de Viena (Áustria), Franz König. As duas principais candidaturas – a moderada, de Benelli, e a conservadora, de Giuseppe Siri, arcebispo de Genova (Itália) – não conseguiam alcançar os dois terços necessários para a eleição.
Segundo John-Peter Pham, em “Heirs of the Fisherman”, faltaram cinco votos para Siri chegar aos dois terços. Uma proposta, feita por cardeais progressistas, teria sido apresentada: a eleição seria garantida desde que nomeasse Benelli, como secretário de Estado. O argumento: as tendências mais conservadoras do primeiro seriam freadas pelo segundo, que foi o homem-forte do pontificado de Paulo 6º. Siri teria negado, argumentando que pactos dentro do conclave seriam passíveis de excomunhão automática.
A versão de Francis Burkle-Young, em “Passing the Keys”, é diferente. Quem teria chegado bem perto de se eleger fora o arcebispo de Florença. Mas a força de segmentos da Cúria Romana, que perdera espaço e influência junto a Paulo 6º por causa de Benelli, foi o maior entrave para ampliar a votação.
Foi a senha para König começar a agir. Apoiador de primeira hora da candidatura de Karol Wojtyla, o arcebispo de Cracóvia, tinha livre trânsito entre os cardeais do Leste Europeu e entre os cardeais progressistas. O austríaco também que teria imposto o nome de João Paulo 2º. O argumento era de que precisava preservar o legado dos últimos três papas. A preferência de Wojtyla era por Stanislas, homenageando um santo polonês.
Nunca uma aposta se mostrara tão diferente da realidade. O legado dos mais de 26 anos de João Paulo 2º seria exatamente o contrário do que esperava König.